Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

aurelius

aurelius

O Senhor é minha rocha, minha esperança!

aureliano, 24.02.17

Confiança2.jpg

8º Domingo do Tempo Comum [26 de fevereiro de 2017]

[Mt 6,24-34]

No início do capítulo sexto de seu evangelho, Mateus apresenta Jesus denunciando a hipocrisia nas práticas de piedade – O Papa Francisco chama a isto de vida dupla: “Mas o que é o escândalo? O escândalo é dizer uma coisa e fazer outra; é ter vida dupla. Vida dupla em tudo: sou muito católico, vou sempre à missa, pertenço a esta e aquela associação; mas a minha vida não é cristã. Não pago o que é justo aos meus funcionários, exploro as pessoas, faço jogo sujo nos negócios, reciclo dinheiro, vida dupla. Muitos católicos são assim. Eles escandalizam”. (Homilia em 23/02/2017).

Depois da orientação a respeito da piedade verdadeira, sem hipocrisia (jejum, oração e esmola), Jesus começa a mostrar que o discípulo deve ter uma relação de confiança em Deus e não nos bens terrenos.

A sentença “Ninguém pode servir a Deus e ao dinheiro” já nos é bastante familiar devido à Campanha da Fraternidade de 2010. Talvez nos falte ainda colocar no coração o que essa proposta de Jesus significa. O evangelho da liturgia deste final de semana nos ajudará a internalizar mais esse ensinamento de Jesus.

O termo original para expressar “dinheiro” é Mamon que significa “entrega”, “aquilo no qual deposito minha confiança”, “alicerce de alguma coisa”. Uma imagem que pode ajudar a entender é de alguém que está se afogando e se agarra em alguma corda ou tábua. Ele não solta por nada esse objeto, mesmo quando alguém lhe pede que solte, pois é o que lhe dá segurança naquela situação. Quando Jesus diz que não se deve servir a Deus e ao dinheiro, está dizendo que as consequências deste serviço são bem diferentes. Enquanto o mamon escraviza, domina, suga todas as forças da pessoa, leva a explorar e matar outras vidas pelo seu aumento e sustento, Deus estabelece com o seu servo uma relação de libertação, de mais vida, de horizontes novos, de realização alegre, de harmonia na vida e com as pessoas, de liberdade. É uma relação na confiança, na entrega, na coragem de soltar a “corda da salvação” (bens materiais) para uma relação de partilha, de doação ao modo de Jesus.

Entendendo o “não vos preocupeis” de Jesus: Na verdade Jesus não nos quer preguiçosos, em busca de “sombra e água fresca”, como se diz popularmente. Jesus quer que sejamos pré-ocupados, ou seja, que coloquemos Deus antes de nossas ocupações. Em outras palavras, precisamos estar ocupados: “quem não quer trabalhar, não pode comer”; porém o Senhor deve ter precedência em todas as nossas ações. Há uma oração-coleta na liturgia da Igreja que reza assim: Inspirai, ó Deus as nossas ações e ajudai-nos a realizá-las, para que em vós comece e para vós termine tudo aquilo que fizermos. (5ª feira após as cinzas).  A fidelidade de Deus deve ser parâmetro de nossa fidelidade, nossa verdade. Nesse sentido devemos pré-ocupar-nos com nossa vida.

Confiança em Deus no sofrimento. Não há pessoa que passe a vida toda sem sofrer nenhuma derrota ou fracasso. A vida é feita de vitórias e derrotas, de sucessos e fracassos. A grande dificuldade é lidar com os fracassos da vida. Muitos querem que Deus resolva seus problemas, ou não os deixe cair no fracasso. Porém, muitas vezes Deus entra na nossa história pelo sofrimento. É preciso dar lugar ao mistério de Deus na nossa vida. Nem tudo tem explicação. É verdade que muitos sofrimentos poderiam ser evitados. Quando o evangelho é vivido por todos os membros da família; quando os valores do evangelho estão presentes na comunidade, no coração dos responsáveis pelas políticas e pelos bens públicos e privados, muitos sofrimentos podem ser amenizados ou mesmo erradicados. Porém há situações em que precisamos nos jogar no Mistério de Deus e nos lançarmos nos braços providentes do Pai para que nele encontremos o conforto e a esperança que superam toda dor. É bom guardar no coração estas consoladoras palavras: “Ainda que as mães se esquecessem de seus filhos, eu não me esqueceria de ti” (Is 49, 15).

Pe. Aureliano de Moura Lima, SDN