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aurelius

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Ele nos conhece e nos chama pelo nome

aureliano, 10.05.25

4º Domingo da Páscoa - C - 12 de maio.jpg

4º Domingo da Páscoa [11 de maio de 2025]

[Jo 10,27-30]

O contexto do evangelho de hoje é o de Jesus passeando dentro do Templo, por ocasião da festa da Dedicação, quando um grupo de judeus se aproxima, ameaçando-o. Jesus lhes recrimina a falta de fé: “Vós não credes porque não sois das minhas ovelhas” (Jo 10,26). Ouvindo estas palavras os judeus queriam apedrejá-lo (Jo 10,31).

E Jesus lhes diz que, para ser ovelhas do seu rebanho, precisam escutar a sua voz: “As minhas ovelhas escutam a minha voz, eu as conheço e elas me seguem”. Aqui está o que é essencial na fé cristã: ouvir a voz de Jesus e segui-lo. Não é cristão quem se recusa a escutar a Jesus e não se dispõe a segui-lo.

A primeira coisa que precisamos trabalhar em nós é a capacidade de escutar. É o que a Campanha da Fraternidade de 2022 - “Fraternidade e Educação” - propõe como primeira atitude: “O que escutamos e como escutamos orienta o nosso fazer cotidiano e a própria sociedade: escutar é uma condição para nossas relações, para a compreensão do que se passa, para o diagnóstico dos caminhos que devemos tomar e, especialmente, escutar é uma condição para falar com sabedoria e ensinar com amor. Escutar o outro, como Jesus nos demonstrou em toda a sua pedagogia, é o ponto de partida para acolher, compreender, problematizar e transformar a realidade” (Texto-base, 27).

Nesse discipulado em busca de aprender a escutar o outro, precisamos, em meio a tantas vozes que ressoam aos nossos ouvidos, desenvolver a capacidade de distinguir a voz do Bom Pastor. Sua voz não se mistura com os gritos do consumismo, da teologia da prosperidade e da retribuição, do desespero, das ameaças, dos moralismos, do preconceito, daqueles que defendem e propagam a violência e o armamento dos civis. Não! A voz de Jesus se confunde com sua própria vida. Ele dá a vida por suas ovelhas. Quem não tem coragem de dar a vida, de se colocar a serviço, não pode ser ouvido nem seguido. É a voz do lobo que quer devorar: pensa somente em si mesmo. O pastor se sacrifica pelo bem das ovelhas; o mercenário sacrifica as ovelhas em seu próprio benefício.

A palavra viva, concreta e inconfundível de Jesus deve ocupar o centro de nossa vida, de nossas famílias e de nossas comunidades. Por isso precisaríamos adotar o piedoso costume de, todas as manhãs, meditar um trechinho da Sagrada Escritura. Assim vamos nos aproximando daquele ideal de discípulo que sabe ouvir e sabe dizer uma palavra de conforto ao que sofre: “O Senhor Deus me deu língua de discípulo para que soubesse trazer ao cansado uma palavra de conforto. De manhã em manhã, sim, desperta o meu ouvido, para que eu ouça como os discípulos. O Senhor Deus abriu-me o ouvido, e eu não fui rebelde, não recuei” (Is 50,4-5).

Juntamente com a escuta da voz do Pastor vem a segunda parte determinante no discipulado: o seguimento. Prega-se por aí uma religião aburguesada, descomprometida com as dores do povo. Como se o culto fosse um lugar de ‘sedar’ as consciências, de busca de ‘conforto’ espiritual, de uma espécie de ‘negócio’ com Deus. Ao ouvir a Palavra, precisamos nos posicionar. A fé cristã incide diretamente no modo de viver do cristão. A oração (diálogo com Deus) nos coloca na dinâmica da realização da vontade do Pai. É o seguimento de Jesus: crer no que ele creu, dar importância ao que ele deu, defender a causa que ele defendeu, aproximar-se dos pequenos e indefesos como ele se aproximou, confiar no Pai como ele confiou, enfrentar a cruz com a esperança que ele enfrentou.

Escutar a voz do Bom Pastor pode ser até fácil. Mas segui-lo demanda tomada de decisão, atitude cotidiana de conversão. Pe. Antônio Pagola diz que “É fácil instalar-nos na prática religiosa, sem deixar-nos questionar pelo chamado que Jesus nos faz no evangelho deste domingo. Jesus está dentro da religião, mas não nos arrasta para seguirmos seus passos. Sem dar-nos conta nos acostumamos a viver de maneira rotineira e repetitiva. Falta-nos a criatividade, a renovação e a alegria de quem vive esforçando-se por seguir a Jesus” (www.musicaliturgica.com).

O evangelho de hoje traz três verbos que não podem ser esquecidos: a) Ele “conhece” suas ovelhas. Chama pelo nome. É tão importante ser reconhecido pelo nome e não por um número ou coisa semelhante. b) As suas ovelhas ”o seguem”. Importa seguir o Bom Pastor. Não seguir pessoas ou influenciadores sociais. Mas seguir a Jesus. c) Ele “dá sua vida” por elas. Faz a oferta de si mesmo. Ele lhes dá a vida eterna que já começa aqui. Quem escuta sua voz e o segue está na vida eterna. Deve ser uma grande alegria para o seguidor de Jesus.

Louvemos e agradeçamos a Deus pela escolha de Leão XIV, que acolheu o convite do Senhor para ser Bispo de Roma e Pastor da Igreja Universal. Deus o ilumine e inspire nesse serviço árduo e necessário para o bem da Igreja e do mundo. Ele teve como primeira palavra um apelo à paz que brota do Ressuscitado, o Bom Pastor: “A paz esteja com todos vós! Caríssimos irmãos e irmãs, esta é a primeira saudação de Cristo Ressuscitado, o Bom Pastor, que deu a vida pelo rebanho de Deus. Também eu gostaria que esta saudação de paz entrasse no vosso coração, chegasse às vossas famílias, a todas as pessoas, onde quer que se encontrem, a todos os povos, a toda a terra. A paz esteja convosco!”

Considerações necessárias:

  1. Hoje é o dia das Pastorais da Igreja. Estas são um modo de Jesus pastorear seu rebanho. Um modo de servir às várias necessidades das comunidades. Pastoral do batismo, da liturgia, da catequese, do dízimo, da criança, da mulher marginalizada, do menor, dos encarcerados etc. Não se trata de uma mera organização. Trata-se de um modo de serviço, a partir de Jesus, dentro da Igreja, às várias necessidades das pessoas. É importante assumir esse serviço como um ‘lavar os pés’. Jamais como meio de autopromoção, de desfile dentro do templo nos corredores e presbitérios a cata de aplausos e reconhecimento. Há pessoas na liderança da comunidade (padres e leigos) que vivem buscando vantagens, lucros, em constante competição, atrás de benesses sociais e financeiras, transformando o espaço litúrgico num palco. É preciso lançar um olhar para o Bom Pastor. Papa Francisco não se cansava de repetir que “Missa não é espetáculo, mas encontro com o Senhor”.
  2. Há muitas formas de ser pastor: pastores devem ser os pais, os professores, os chefes de órgãos públicos. Como os líderes religiosos e políticos estão exercendo seu serviço? São pastores ou mercenários? Qual é o nível de seu interesse pela pessoa humana? – Infelizmente, o que temos presenciado, ultimamente, nos homens públicos de nosso país, enche-nos de vergonha: uma busca desenfreada pelo poder, pelo dinheiro, por benefícios pessoais, sem o mínimo de ética e de respeito pelos pobres de nossa nação! Na campanha eleitoral enchem a boca para dizer que vão defender os direitos dos pobres e trabalhadores. Depois, enchem o bolso de dinheiro surrupiado dos pobres.
  3. Convido o leitor para prestar atenção nesse trechinho da Mensagem dos Bispos, nossos Pastores, por ocasião da 57ª Assembleia Geral: “A violência também atinge níveis insuportáveis. Aos nossos ouvidos de pastores chega o choro das mães que enterram seus filhos jovens assassinados, das famílias que perdem seus entes queridos e de todas as vítimas de um sistema que instrumentaliza e desumaniza as pessoas, dominadas pela indiferença. O feminicídio, o submundo das prisões e a criminalização daqueles que defendem os direitos humanos reclamam vigorosas ações em favor da vida e da dignidade humana. O verdadeiro discípulo de Jesus terá sempre no amor, no diálogo e na reconciliação a via eficaz para responder à violência e à falta de segurança, inspirado no mandamento “Não matarás”, e não em projetos que flexibilizem a posse e o porte de armas”.
  4. É urgente lembrar que hoje é dia, também, de oração pelas vocações sacerdotais, religiosas e ministeriais na Igreja. Você reza pelas vocações? O que você faz para que mais pessoas tenham a coragem de dar seu sim generoso ao chamado do Pai para um serviço específico na Igreja, como padre, religioso, religiosa? Precisamos pedir ao Pai que “envie trabalhadores para a messe”. E, junto à oração, incentivar e apoiar aqueles que se dispõem a entrar nesse caminho.
  5. Celebramos também o Dia das Mães. Seria bom nos lembrarmos neste dia das mães sofredoras. Há mães que não experimentam alegrias neste dia. Talvez experimentem ainda uma dor maior. Que tal fazermos uma visita solidária a alguma mãe sofrida? Que tal darmos uma presença a crianças que não têm a mãe por perto? Mais do que festanças, comilanças e bebedeiras, precisamos caminhar na direção de maior solidariedade! – Um excelente serviço às mães é repartir as tarefas de casa, aliviar o peso dos trabalhos que as mães costumam ter de trabalhar fora e ainda em casa. Expressar agradecimento pelas incontáveis noites de sono perdidas e inumeráveis serviços, com um “muito obrigado”. E elevar a Deus uma prece de louvor e de ação de graças pela mãe que arriscou sua vida para nos gerar.

Pe. Aureliano de Moura Lima, SDN

Importa dar a vida por mais vida

aureliano, 19.04.24

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4º Domingo da Páscoa [21 de abril de 2024]

[Jo 10,11-18] 

O quarto domingo da Páscoa sempre traz o tema do Bom Pastor. A comunidade de Israel estava habituada a lidar com a imagem de pastor porque era um povo de pastores de ovelhas e cabras. Um grande pastor que se tornou ícone para a comunidade israelita foi Davi. De simples pastor do rebanho de seu pai, tornou-se rei de Israel e Judá. Ainda jovem salvou o rebanho de seu pai enfrentando o leão, arriscando sua própria vida (cf. 1Sm 17,34-37).

Houve outros líderes da comunidade, além de Davi, que foram pastores como Moisés e Saul. Com o passar do tempo os chefes de Israel eram tidos como pastores. Mas a maioria portava-se como mercenária. Os profetas levantaram a voz contra estes tais: “Ai dos pastores de Israel que apascentam a si mesmos! Não é o rebanho que eles devem apascentar? Comeis as partes gordas, vos vestis com a lã, sacrificando os animais cevados; mas o rebanho, não o apascentais” (Ez 34, 2-3).

Num tempo em que começaram a haver desentendimentos nas primeiras comunidades cristãs acerca da compreensão de liderança, o relato de hoje quer mostrar que Jesus não é ‘um’ pastor, mas ele é ‘o’ Pastor. Os olhares e os corações devem se voltar para ele. A liderança religiosa deve se inspirar nele, permitir que ele, Jesus, pastoreie as comunidades.

Jesus é o Bom Pastor. Ele tem coragem de dar a vida “livremente”. Ele é a “porta” do curral: não prende, não fecha. Ele veio libertar das garras dos lobos e mercenários. Ele enfrenta o lobo, cura as feridas, protege as ovelhas tornando-as autônomas e protagonistas. Enfrenta a morte “para que todos tenham vida”.

Algumas considerações:

  1. O mercenário não se interessa pelas ovelhas, pois busca seu próprio interesse. Há mercenários na política e na religião que continuam confundindo e explorando os pobres e simples, enganando com promessas de solução fácil. Só enganam e exploram os incautos. É preciso ter cuidado!
  2. Hoje é o dia das Pastorais da Igreja. Estas são um modo de Jesus pastorear seu rebanho. Um modo de servir às várias necessidades das comunidades. Pastoral do batismo, da liturgia, da catequese, da criança, das vocações, da mulher marginalizada, do menor, dos encarcerados etc. Não se trata de uma mera organização. Trata-se de um modo de serviço, a partir de Jesus, dentro da Igreja, às várias necessidades das pessoas. É importante assumir esse serviço como um ‘lavar os pés’. Jamais como meio de autopromoção, de desfile dentro do templo nos corredores e presbitérios a cata de aplausos e reconhecimento. Há pessoas na liderança da comunidade (padres e leigos) que vivem buscando vantagens, lucros, em constante competição, atrás de benesses sociais e financeiras. Contemplemos os gestos do Bom Pastor...
  3. Há muitas formas de ser pastor: pastores devem ser os pais, os professores, os chefes de órgãos públicos. Como você está exercendo seu serviço? Suas atitudes se aproximam mais das de Jesus ou das atitudes do mercenário? Qual é o grau de seu interesse pela pessoa humana? De que modo você manifesta isso?
  4. Ovelhas ou protagonistas? Em tempos de aprofundamento e vivência do laicato na Igreja, uma pergunta se faz necessária e oportuna: como anda o protagonismo do cristão leigo em contraposição à submissão da ovelha? Os pastores enfrentam o grande desafio de conhecer e compreender a nova situação do leigo. Para isso precisam conhecer os verdadeiros anseios que estão no coração de todas as pessoas tanto rurais como urbanas. Devem conhecer suas angústias, seus desejos e frustrações. Já as ovelhas: que se decidam a ser protagonistas de suas vidas, para que a decisão de seguir o Bom Pastor não seja apenas um ato de acompanhamento da massa, mas a  decisão livre e corajosa de construir o Reino de Deus junto ao Bom Pastor, para um mundo mais justo, fraterno e acolhedor.
  5. Reforçando essa ideia do pastoreio, gostaria de enfatizar ainda o seguinte: Jesus é o “bom Pastor” porque ele “dá a vida”. Não pode vir em primeiro lugar a ideia de que pastor é o organizador, o controlador, o coordenador, o mantenedor da ordem, o zelador da doutrina e das normas litúrgicas. A partir de Jesus, deve vir em primeiro lugar a disposição de “dar a vida” para aliviar o sofrimento e transmitir a alegria de viver. Não foi isso que Jesus fez? Então pastor/pastora é todo aquele/a que está disposto a sair de si, a doar a vida, a cuidar dos sofredores, a aliviar a dor, a acolher, a curar as feridas, a carregar nos ombros, a zelar pelas ovelhas mais sofridas e abandonadas. É em consequência disso e para o maior bem do rebanho que ele vai se preocupar com a doutrina e o ensinamento. Jesus é o “bom pastor” não por saber governar e guiar melhor do que os outros, mas porque “amou até o fim”, porque foi capaz de empenhar a sua vida pelo rebanho.

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É oportuno também, neste dia do Bom Pastor, refletir sobre a Mensagem da CNBB ao Povo Brasileiro por ocasião da 61ª Assembleia em Aparecida. Eles são nossos Pastores.

“O passado recente nos ensina que a busca de soluções para o Brasil passa necessariamente pelo diálogo e pelo entendimento. Muito do que superamos deveu-se à articulação entre agentes lúcidos e cidadãos compromissados com a vida, a democracia e o país. As instituições brasileiras e a sociedade civil são fundamentais nesse processo. Os três poderes da República são instados a viver o que preconiza a Constituição. Independência e harmonia não são opções de momento, são deveres permanentes e irrenunciáveis.

Na sociedade do diálogo, a paz é um imperativo. O primeiro dom do Ressuscitado foi de que a paz estivesse no nosso meio (cf. João 20,21). Papa Francisco recorda que a paz, por ação da força “mansa e santa” dos que creem, deve ser buscada como forma de “se opor ao ódio da guerra” (Papa Francisco, 1º. de janeiro de 2024). Desejamos paz para os inúmeros países em guerra, cujas consequências são milhares de mortes e milhões de deslocados e refugiados. Os gastos militares em 2023 foram os mais altos desde a Segunda Guerra Mundial, enquanto a fome cresceu e alcança parcela significativa da população mundial” (Mensagem dos Bispos Católicos ao Povo Brasileiro).

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Nesse Domingo a Igreja é convidada a rezar pelas vocações. Há vários anos que o Papa escreve uma mensagem motivando a oração pelas vocações. Na mensagem para este ano Francisco recomenda a gratidão, a esperança e a oração. Agradecer pelos que dizem um sim generoso cotidianamente, incansavelmente: na família ou na vida consagrada. Alimentarmos a esperança que nos ilumina e inspira nas incertezas e escuridão da vida. E rezarmos pelas vocações, pedindo ao Senhor da messe que desperte em nossos jovens o desejo de seguir a Jesus, de se deixar fascinar por ele.

“Este Dia proporciona-nos sempre uma boa ocasião para recordar, com gratidão, diante do Senhor o compromisso fiel, quotidiano e muitas vezes escondido daqueles que abraçaram uma vocação que envolve toda a sua vida. Penso nas mães e nos pais que não olham primeiro para si mesmos, nem seguem a tendência dum estilo superficial, mas organizam a sua existência cuidando das relações com amor e gratuidade, abrindo-se ao dom da vida e pondo-se ao serviço dos filhos e seu crescimento. Penso em todos aqueles que realizam, dedicadamente e em espírito de colaboração, o seu trabalho; naqueles que, em diferentes campos e de vários modos, se empenham por construir um mundo mais justo, uma economia mais solidária, uma política mais equitativa, uma sociedade mais humana, isto é, em todos os homens e mulheres de boa vontade que se dedicam ao bem comum. Penso nas pessoas consagradas, que oferecem a sua existência ao Senhor quer no silêncio da oração quer na atividade apostólica, às vezes na linha de vanguarda e sem poupar energias, servindo com criatividade o seu carisma e colocando-o à disposição de quantos encontram. E penso naqueles que acolheram a chamada ao sacerdócio ordenado, se dedicam ao anúncio do Evangelho, repartem a sua vida – juntamente com o Pão Eucarístico – pelos irmãos, semeiam esperança e mostram a todos a beleza do Reino de Deus. (Mensagem do Papa Francisco para o 61º Dia Mundial de Oração pelas Vocações).

Refletindo: Você reza pelas vocações? O que você faz para que mais pessoas tenham a coragem de dar seu sim generoso ao chamado do Pai para um serviço específico na Igreja como padre, religioso, religiosa? Precisamos pedir ao Pai que “envie trabalhadores para a messe”. E, junto à oração, incentivar e apoiar aqueles que se dispõem a entrar nesse caminho.

Pe. Aureliano de Moura Lima, SDN

O Bom Pastor entrega sua vida

aureliano, 24.04.21

4º Domingo da Páscoa - 22 de abril.jpg

4º Domingo da Páscoa [25 de abril de 2021]

[Jo 10,11-18] 

O quarto domingo da Páscoa sempre traz o tema do Bom Pastor. A comunidade de Israel estava habituada a lidar com a imagem de pastor porque era um povo de pastores de ovelhas e cabras. Um grande pastor que se tornou ícone para a comunidade israelita foi Davi. De simples pastor do rebanho de seu pai, tornou-se rei de Israel e Judá. Ainda jovem salvou o rebanho de seu pai enfrentando o leão, arriscando sua própria vida (cf. 1Sm 17,34-37).

Houve outros líderes da comunidade, além de Davi, que foram pastores como Moisés e Saul. Com o passar do tempo os chefes de Israel eram tidos como pastores. Mas a maioria portava-se como mercenária. Os profetas levantaram a voz contra estes tais: “Ai dos pastores de Israel que apascentam a si mesmos! Não é o rebanho que eles devem apascentar? Comeis as partes gordas, vos vestis com a lã, sacrificando os animais cevados; mas o rebanho, não o apascentais” (Ez 34, 2-3).

Num tempo em que começaram a haver desentendimentos nas primeiras comunidades cristãs acerca da compreensão de liderança, o relato de hoje quer mostrar que Jesus não é ‘um’ pastor, mas ele é ‘o’ Pastor. Os olhares e os corações devem se voltar para ele. A liderança religiosa deve se inspirar nele, permitir que ele, Jesus, pastoreie as comunidades.

Jesus é o Bom Pastor. Ele tem coragem de dar a vida “livremente”. Ele é a “porta” do curral: não prende, não fecha. Ele veio libertar das garras dos lobos e mercenários. Ele enfrenta o lobo, cura as feridas, protege as ovelhas tornando-as autônomas e protagonistas. Enfrenta a morte “para que todos tenham vida”.

Algumas considerações:

  1. O mercenário não se interessa pelas ovelhas, pois busca seu próprio interesse. Há mercenários na política e na religião que continuam confundindo e explorando os pobres e simples, enganando com promessas de solução fácil. Só enganam e exploram os incautos. É preciso ter cuidado!
  2. Hoje é o dia das Pastorais da Igreja. Estas são um modo de Jesus pastorear seu rebanho. Um modo de servir às várias necessidades das comunidades. Pastoral do batismo, da liturgia, da catequese, da criança, das vocações, da mulher marginalizada, do menor, dos encarcerados etc. Não se trata de uma mera organização. Trata-se de um modo de serviço, a partir de Jesus, dentro da Igreja, às várias necessidades das pessoas. É importante assumir esse serviço como um ‘lavar os pés’. Jamais como meio de autopromoção, de desfile dentro do templo nos corredores e presbitérios a cata de aplausos e reconhecimento. Há pessoas na liderança da comunidade (padres e leigos) que vivem buscando vantagens, lucros, em constante competição, atrás de benesses sociais e financeiras. Contemplemos os gestos do Bom Pastor...
  3. Há muitas formas de ser pastor: pastores devem ser os pais, os professores, os chefes de órgãos públicos. Como você está exercendo seu serviço? Suas atitudes se aproximam mais das de Jesus ou das atitudes do mercenário? Qual é o grau de seu interesse pela pessoa humana? De que modo você manifesta isso?
  4. Ovelhas ou protagonistas? Em tempos de aprofundamento e vivência do laicato na Igreja, uma pergunta se faz necessária e oportuna: como anda o protagonismo do cristão leigo em contraposição à submissão da ovelha? Os pastores enfrentam o grande desafio de conhecer e compreender a nova situação do leigo. Para isso precisam conhecer os verdadeiros anseios que estão no coração de todas as pessoas tanto rurais como urbanas. Devem conhecer suas angústias, seus desejos e frustrações. Já as ovelhas: que se decidam a ser protagonistas de suas vidas, para que a decisão de seguir o Bom Pastor não seja apenas um ato de acompanhamento da massa, mas a  decisão livre e corajosa de construir o Reino de Deus junto ao Bom Pastor, para um mundo mais justo, fraterno e acolhedor.
  5. Reforçando essa ideia do pastoreio, gostaria de enfatizar ainda o seguinte: Jesus é o “bom Pastor” porque ele “dá a vida”. Não pode vir em primeiro lugar a ideia de que pastor é o organizador, o controlador, o coordenador, o mantenedor da ordem, o zelador da doutrina e das normas litúrgicas. A partir de Jesus, deve vir em primeiro lugar a disposição de “dar a vida” para aliviar o sofrimento e transmitir a alegria de viver. Não foi isso que Jesus fez? Então pastor/pastora é todo aquele/a que está disposto a sair de si, a doar a vida, a cuidar dos sofredores, a aliviar a dor, a acolher, a curar as feridas, a carregar nos ombros, a zelar pelas ovelhas mais sofridas e abandonadas. É em consequência disso e para o maior bem do rebanho que ele vai se preocupar com a doutrina e o ensinamento. Jesus é o “bom pastor” não por saber governar e guiar melhor do que os outros, mas porque “amou até o fim”, porque foi capaz de empenhar a sua vida pelo rebanho.

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Nesse Domingo a Igreja é convidada a rezar pelas vocações. Há vários anos que o Papa escreve uma mensagem motivando a oração pelas vocações. Nesse ano, o Papa Francisco escreveu sobre a vocação de São José. Três palavras concretizadas na vida de José de Nazaré orientam a mensagem: sonho, serviço e fidelidade. Transcrevi algumas palavras do Papa Francisco sobre o sonho:

“Na realidade, os sonhos introduziram José em aventuras que nunca teria imaginado. O primeiro perturbou o seu noivado, mas tornou-o pai do Messias; o segundo fê-lo fugir para o Egito, mas salvou a vida da sua família. Depois do terceiro, que ordenava o regresso à pátria, vem o quarto que o levou a mudar os planos, fazendo-o seguir para Nazaré, onde precisamente Jesus havia de começar o anúncio do Reino de Deus. Por conseguinte, em todos estes transtornos, revelou-se vitoriosa a coragem de seguir a vontade de Deus. Assim acontece na vocação: a chamada divina impele sempre a sair, a dar-se, a ir mais além. Não há fé sem risco. Só abandonando-se confiadamente à graça, deixando de lado os próprios programas e comodidades, é que se diz verdadeiramente «sim» a Deus. E cada «sim» produz fruto, porque adere a um desígnio maior, do qual entrevemos apenas alguns detalhes, mas que o Artista divino conhece e desenvolve para fazer de cada vida uma obra-prima. Neste sentido, São José constitui um ícone exemplar do acolhimento dos projetos de Deus. Trata-se, porém, de um acolhimento ativo, nunca de abdicação nem capitulação; ele «não é um homem resignado passivamente. O seu protagonismo é corajoso e forte» (Carta ap. Patris corde, 4). Que ele ajude a todos, sobretudo aos jovens em discernimento, a realizar os sonhos que Deus tem para cada um; inspire a corajosa intrepidez de dizer «sim» ao Senhor, que sempre surpreende e nunca desilude! (Mensagem do Papa Francisco para o 58º Dia Mundial de Oração pelas Vocações).

Refletindo: Você reza pelas vocações? O que você faz para que mais pessoas tenham a coragem de dar seu sim generoso ao chamado do Pai para um serviço específico na Igreja como padre, religioso, religiosa? Precisamos pedir ao Pai que “envie trabalhadores para a messe”. E, junto à oração, incentivar e apoiar aqueles que se dispõem a entrar nesse caminho.

Pe. Aureliano de Moura Lima, SDN

Jesus é a Porta da salvação

aureliano, 01.05.20

4º Domingo da Páscoa - A - 03 de maio.jpg

4º Domingo da Páscoa [03 de maio de 2020]

[Jo 10,1-10]

Estamos no capítulo 10º do Evangelho de João. É interessante notar que o capítulo 9º trouxe o relato da cura do cego de nascença com toda aquela realidade de discussão e expulsão daquele homem da sinagoga. No final, porém, Jesus o acolhe junto a si. Vale a pena retomar aquele diálogo: “Jesus ouviu dizer que o haviam expulsado. Encontrando-o, disse-lhe: ‘Crês no Filho do Homem?’ Respondeu ele: ‘Quem é, Senhor, para que eu nele creia?’ Jesus lhe disse: ‘Tu o estás vendo, é quem fala contigo’. Exclamou ele: ‘Creio, Senhor!’ E prostrou-se diante dele” (Jo 9,35-38).

No relato do evangelho de hoje Jesus se apresenta como o bom Pastor, como a Porta do redil. O redil representa, nesse contexto, o povo oprimido que Jesus veio libertar. Ele é a porta. Quem passar por ele tem a vida. Porque ele veio “para que todos tenham vida”. Os que vieram antes dele se portaram como ladrões e assaltantes, não lhes interessando o bem das ovelhas. Ele veio, porém, para garantir-lhes o bem, a salvação.

Outro aspecto que vale ressaltar provém das seguintes palavras de Jesus: “Eu sou a porta. Se alguém entrar por mim será salvo”. Isso significa que todos, pastores e ovelhas, a partir de Jesus devem entrar por Ele. Devem passar por essa “porta”. E quem não passa pela “porta” é ladrão e assaltante. Esse ensinamento de Jesus ajuda a dar critérios de avaliação daqueles que se dizem ou foram feitos pastores e líderes de comunidades. Se o que fazem não demonstra que eles passaram pela “porta”, ou seja, se sua prática de vida não confere com o modo de vida de Jesus, então, cuidado! São assaltantes, ladrões, que buscam o próprio interesse, e não o das ovelhas. São falsos pastores, falsos mestres.

Outro elemento: a porta não é um indivíduo, mas a comunidade em torno e em comunhão com Jesus. Jesus e sua comunidade que vive unida a ele são a porta que dá acesso ao Pai. A comunidade cristã deve se constituir como “porta” que permite aos fiéis ter acesso ao Pai. Isso nos leva a concluir que, quando a comunidade não permite e nem ajuda o fiel cristão a aproximar-se do Pai, fazer a experiência do Deus da vida, ela está naquela situação de assaltante, de falso pastor ou pastora. Uma porta falsa, mentirosa, enganadora.

Cabe aqui também uma palavra para todos que ocupam cargos ou ministério de liderança na comunidade e na sociedade. Padres, religiosos e religiosas, pastores, pais e mães, coordenadores, catequistas, administradores, secretários de pastas públicas, prefeitos, vereadores, deputados e senadores, chefes executivos, juízes e advogados, enfim, todos que têm função de gestão e administração, que têm pessoas sob seus cuidados, deveriam lançar um olhar para as atitudes de Jesus e conferir seu modo de gerir bens e pessoas.

Ainda mais: é preciso superar a imagem da parábola. “Ovelha”, “rebanho”, metáforas do texto, não significa submissão subserviente como se o pastor mandasse porque só ele sabe onde está a melhor pastagem. Como se as ovelhas fossem meros fantoches, sem vontade própria, sem liberdade, sem interação. Os limites da linguagem da parábola precisam ser transpostos para que haja interlocutores de ministério do pastoreio, mais do que destinatários. Ou seja, é preciso desenvolver e qualificar nas pessoas sua capacidade de pensar por si, de agir por si; que tenham opinião própria para que participem efetivamente do processo de transformação da sociedade, da comunidade. Que possam interagir, somar, sugerir etc. Todos precisam “passar pela porta”!

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O BRASIL NAS MÃOS DE LADRÕES E PERVERSOS

“Jesus tornou a dizer-lhes: ‘Em verdade, em verdade vos digo: eu sou a porta das ovelhas. Todos quantos vieram antes de mim foram ladrões e salteadores, mas as ovelhas não os ouviram. Eu sou a porta. Se alguém entrar por mim será salvo; tanto entrará como sairá e encontrará pastagem. O ladrão não vem senão para furtar, matar e destruir. Eu vim para que as ovelhas tenham vida e para que a tenham em abundância’” (Jo 10,7-10).

Parece que Jesus está falando para o Brasil nestes tempos de extorsão, sonegação de impostos, de queimadas criminosas e destruição do meio ambiente; de entrega dos bens nacionais ao mercado financeiro; de disputas pelo poder, de indiferença aos mais pobres acometidos e mortos pelo covid-19. As negociatas noturnas, os acordos espúrios, os jogos de poder e de dominação... Quem é mesmo que está interessado na vida das ovelhas sofridas, maltratadas, doentes, desgarradas? Parece que engordam ainda mais as ovelhas “gordas” às custas do sufocamento das magras e doentes!

Na primeira leitura de hoje Pedro faz uma advertência excepcional: "Salvai-vos do meio dessa geração perversa!" (At 2,40). As palavras de Jesus e as palavras de Pedro são uma chave de leitura para o momento político e econômico que estamos vivendo. Há pouca gente levando em consideração aquela palavra que resume a vida de Jesus: “Eu vim para que todos tenham vida em abundância”. A perversidade ainda encontra ressonância e adeptos em muitos que se dizem cristãos e católicos. Uma lástima!

*Hoje é Dia Mundial de Oração pelas Vocações. Isso é motivo de preocupação sua? Você pede ao Senhor da messe que envie operários para a vinha? Como você vê e vive a realidade da messe? Como você vê e o que você faz para que se multiplique e aumente o número de servidores e trabalhadores na messe do Senhor? O que você está fazendo pelas vocações? Que lugar você ocupa na história da salvação?

Por fim, sugiro a leitura das palavras do Papa Francisco para o 57º Dia Mundial de Oração pelas Vocações:

“Na vocação específica que somos chamados a viver, estes ventos podem debilitar-nos. Penso em quantos assumem funções importantes na sociedade civil, nos esposos, que intencionalmente me apraz definir «os corajosos», e de modo especial penso nas pessoas que abraçam a vida consagrada e o sacerdócio. Conheço a vossa fadiga, as solidões que às vezes tornam pesado o coração, o risco da monotonia que pouco a pouco apaga o fogo ardente da vocação, o fardo da incerteza e da precariedade dos nossos tempos, o medo do futuro. Coragem, não tenhais medo! Jesus está ao nosso lado e, se O reconhecermos como único Senhor da nossa vida, Ele estende-nos a mão e agarra-nos para nos salvar.

(...) Caríssimos, especialmente neste Dia de Oração pelas Vocações, mas também na ação pastoral ordinária das nossas comunidades, desejo que a Igreja percorra este caminho ao serviço das vocações, abrindo brechas no coração de todos os fiéis, para que cada um possa descobrir com gratidão a chamada que Deus lhe dirige, encontrar a coragem de dizer «sim», vencer a fadiga com a fé em Cristo e finalmente, como um cântico de louvor, oferecer a própria vida por Deus, pelos irmãos e pelo mundo inteiro. Que a Virgem Maria nos acompanhe e interceda por nós”.

Pe. Aureliano de Moura Lima, SDN

O Bom Pastor arrisca; o mercenário foge

aureliano, 20.04.18

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4º Domingo da Páscoa [22 de abril de 2018]

[Jo 10,11-18] 

O quarto domingo da Páscoa sempre traz o tema do Bom Pastor. A comunidade de Israel estava habituada a lidar com a imagem de pastor porque era um povo de pastores de ovelhas e cabras. Um grande pastor que se tornou ícone para a comunidade israelita foi Davi. De simples pastor do rebanho de seu pai, tornou-se rei de Israel e Judá. Ainda jovem salvou o rebanho de seu pai enfrentando o leão, arriscando sua própria vida (cf. 1Sm 17,34-37).

Houve outros líderes da comunidade, além de Davi, que foram pastores como Moisés e Saul. Com o passar do tempo os chefes de Israel eram tidos como pastores. Mas a maioria portava-se como mercenária. Os profetas levantaram a voz contra estes tais: “Ai dos pastores de Israel que apascentam a si mesmos! Não é o rebanho que eles devem apascentar? Comeis as partes gordas, vos vestis com a lã, sacrificando os animais cevados; mas o rebanho, não o apascentais” (Ez 34, 2-3).

Num tempo em que começaram a haver desentendimentos nas primeiras comunidades cristãs acerca da compreensão de liderança, o relato de hoje quer mostrar que Jesus não é ‘um’ pastor, mas ele é ‘o’ Pastor. Os olhares e os corações devem se voltar para ele. A liderança religiosa deve se inspirar nele, permitir que ele, Jesus, pastoreie as comunidades.

Jesus é o Bom Pastor. Ele tem coragem de dar a vida “livremente”. Ele é a “porta” do curral: não prende, não fecha. Ele veio libertar das garras dos lobos e mercenários. Ele enfrenta o lobo, cura as feridas, protege as ovelhas tornando-as autônomas e protagonistas. Enfrenta a morte “para que todos tenham vida”.

Algumas considerações:

  1. O mercenário não se interessa pelas ovelhas, pois busca seu próprio interesse. Há mercenários na política e na religião que continuam confundindo e explorando os pobres e simples, enganando com promessas de solução fácil. Só enganam e exploram os incautos. É preciso ter cuidado!
  2. Hoje é o dia das Pastorais da Igreja. Estas são um modo de Jesus pastorear seu rebanho. Um modo de servir às várias necessidades das comunidades. Pastoral do batismo, da liturgia, da catequese, da criança, da mulher marginalizada, do menor, dos encarcerados etc. Não se trata de uma mera organização. Trata-se de um modo de serviço, a partir de Jesus, dentro da Igreja, às várias necessidades das pessoas. É importante assumir esse serviço como um ‘lavar os pés’. Jamais como meio de autopromoção, de desfile dentro do templo nos corredores e presbitérios a cata de aplausos e reconhecimento. Há pessoas na liderança da comunidade (padres e leigos) que vivem buscando vantagens, lucros, em constante competição, atrás de benesses sociais e financeiras. Contemplemos os gestos do Bom Pastor...
  3. Há muitas formas de ser pastor: pastores devem ser os pais, os professores, os chefes de órgãos públicos. Como você está exercendo seu serviço? Suas atitudes se aproximam mais das de Jesus ou das atitudes do mercenário? Qual é o grau de seu interesse pela pessoa humana? De que modo você manifesta isso?
  4. Ovelhas ou protagonistas? Em tempos de aprofundamento e vivência do laicato na Igreja, uma pergunta se faz necessária e oportuna: como anda o protagonismo do cristão leigo em contraposição à submissão da ovelha? Os pastores enfrentam o grande desafio de conhecer e compreender a nova situação do leigo. Para isso precisam conhecer os verdadeiros anseios que estão no coração de todas as pessoas tanto rurais como urbanas. Devem conhecer suas angústias, seus desejos e frustrações. Já as ovelhas: que se decidam a ser protagonistas de suas vidas, para que a decisão de seguir o Bom Pastor não seja apenas um ato de acompanhamento da massa, mas a  decisão livre e corajosa de construir o Reino de Deus junto ao Bom Pastor, para um mundo mais justo, fraterno e acolhedor.
  5. Reforçando essa ideia do pastoreio, gostaria de enfatizar ainda o seguinte: Jesus é o “bom Pastor” porque ele “dá a vida”. Não pode vir em primeiro lugar a ideia de que pastor é o organizador, o controlador, o coordenador, o mantenedor da ordem, o zelador da doutrina e das normas litúrgicas. A partir de Jesus, deve vir em primeiro lugar a disposição de “dar a vida” para aliviar o sofrimento e transmitir a alegria de viver. Não foi isso que Jesus fez? Então pastor/pastora é todo aquele/a que está disposto a sair de si, a doar a vida, a cuidar dos sofredores, a aliviar a dor, a acolher, a curar as feridas, a carregar nos ombros, a zelar pelas ovelhas mais sofridas e abandonadas. É em consequência disso e para o maior bem do rebanho que ele vai se preocupar com a doutrina e o ensinamento. Jesus é o “bom pastor” não por saber governar e guiar melhor do que os outros, mas porque “amou até o fim”, porque foi capaz de empenhar a sua vida pelo rebanho.

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Nesse Domingo a Igreja é convidada a rezar pelas vocações. Transcrevi algumas palavras do Papa Francisco para esse dia:

“Não poderemos descobrir a chamada especial e pessoal que Deus pensou para nós, se ficarmos fechados em nós mesmos, nos nossos hábitos e na apatia de quem desperdiça a sua vida no círculo restrito do próprio eu, perdendo a oportunidade de sonhar em grande e tornar-se protagonista daquela história única e original que Deus quer escrever conosco.

(...) A alegria do Evangelho, que nos abre ao encontro com Deus e os irmãos, não pode esperar pelas nossas lentidões e preguiças; não nos toca, se ficarmos debruçados à janela, com a desculpa de continuar à espera dum tempo favorável; nem se cumpre para nós, se hoje mesmo não abraçarmos o risco duma escolha. A vocação é hoje! A missão cristã é para o momento presente! E cada um de nós é chamado – à vida laical no matrimônio, à vida sacerdotal no ministério ordenado, ou à vida de especial consagração – para se tornar testemunha do Senhor, aqui e agora.

(...) O Senhor continua hoje a chamar para O seguir. Não temos de esperar que sejamos perfeitos para dar como resposta o nosso generoso «eis-me aqui», nem assustar-nos com as nossas limitações e pecados, mas acolher a voz do Senhor com coração aberto. Escutá-la, discernir a nossa missão pessoal na Igreja e no mundo e, finalmente, vivê-la no «hoje» que Deus nos concede” (Mensagem do Papa Francisco para o 55º Dia mundial de oração pelas vocações).

Refletindo: Você reza pelas vocações? O que você faz para que mais pessoas tenham a coragem de dar seu sim generoso ao chamado do Pai para um serviço específico na Igreja como padre, religioso, religiosa? Precisamos pedir ao Pai que “envie trabalhadores para a messe”. E, junto à oração, incentivar e apoiar aqueles que se dispõem a entrar nesse caminho.

Pe. Aureliano de Moura Lima, SDN