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aurelius

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Tempo, conversão e seguimento

aureliano, 19.01.18

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3º Domingo do Tempo Comum [21 de janeiro de 2018]

[Mc 1,14-20]

A liturgia deste domingo nos convida a refletir, isto é, a nos dobrarmos (re-flectere) sobre três elementos constitutivos da caminhada cristã: o tempo, a conversão e o seguimento a Jesus.

No domingo passado, a partir do evangelho de João, refletimos a respeito da vocação, chamado de Deus para a comunhão com ele e para uma missão. O encontro com Jesus é determinante na busca pelo sentido da vida. Quando fazemos com ele um encontro de verdade, nossa vida toma nova direção, novo sentido. E transbordamos para os outros a experiência que fizemos: André chama seu irmão Simão e o apresenta a Jesus (cf. Jo 1, 40-42). Se nossa missão não proceder de um transbordamento da experiência do encontro com o Senhor, não é cristã. Poderá ser vaidade, fanatismo, prepotência, autoengano. Pois a missão não é nossa, mas de Deus (Missio Dei). É bom conferir como anda a realização da missão que o Senhor nos confiou. Que rastros temos deixado, que tipo de semente temos semeado?

O TEMPO: Na liturgia da palavra de hoje encontramos referências ao tempo. Na primeira leitura, lemos: “dentro de quarenta dias”; na segunda leitura temos: “O tempo está abreviado ... A figura deste mundo passa”; e no evangelho: “O tempo já se completou e o Reino de Deus está próximo”.

Podemos considerar o tempo em três dimensões: o tempo cósmico, regulado pelos ciclos da natureza; o tempo histórico, regulado pelo fluxo dos acontecimentos; e o tempo teológico, vivido à luz da fé num Deus para quem não existe passado nem futuro, mas um eterno presente: “Nasceu para vós, hoje, o Salvador” (cf. Lc 2,11). “Hoje, a salvação entrou nesta casa” (cf. Lc 19,9). “Hoje mesmo estarás comigo no paraíso” (cf.Lc 23,43).

O tempo cósmico, entrelaçado ao tempo histórico, ajuda a perceber os dias e as horas, os acontecimentos que vão determinando novos rumos para a humanidade, novo modo de se relacionar etc. Assim, quando a pessoa vai ficando mais velha, vai percebendo que fica mais limitada e precisa se relacionar com a natureza e com as pessoas de modo diferente. Percebe que a juventude se foi. Já para o jovem trabalhador ou estudante, a dinâmica se dá de modo diferente. Precisa correr contra o tempo para não “sobrar”.

Do ponto de vista da história, com o passar do tempo, os acontecimentos na política, na economia, na cultura vão modificando as relações. Elementos novos vão surgindo e medidas novas precisam ser tomadas para que a história se construa de maneira a ajudar o ser humano a encontrar sentido para sua vida. Fazendo memória da política brasileira podemos identificar onde estão as forças perversas e geradoras de morte. Olhando para a história de nossa Igreja podemos ver aí os sinais de vida trazidos pela renovação do Concílio Vaticano II e as forças retrógradas insistindo em “voltar atrás”. Culturalmente falando vivemos um momento terrível: se a técnica e a ciência avançam por um lado, por outro, paradoxalmente, aumenta-se a perplexidade diante do futuro, pois a vida está sempre mais ameaçada.

Interessa-me, mesmo, o tempo chamado pelos gregos de kairós: tempo sem medida, sem relógio, tempo de Deus. O tempo teológico. Aqui não prevalecem dias, meses ou anos, mas a experiência de Deus que cada um faz. É um tempo que não comporta quantificação. Neste tempo a pessoa pode viver 80 anos ou mesmo 10 anos: não se contam os anos, nem tampouco conhecimento, dinheiro, bens, poder. O que conta é a vida vivida em Deus e a partir dEle.

A CONVERSÃO: Chegou o tempo de Deus. Jesus quer dar um novo sentido à vida humana. Por isso ele convida à conversão. Converter-se é mudar de direção quando o rumo que encetamos  não confere com o projeto de Jesus. Converter-se é convergir a atenção e as forças para uma única direção: o Reino de Deus. É sair da dispersão que desperdiça as energias em muitas coisas que prejudicam o crescimento do Reino de Deus. Então aqui o tempo é breve: não se pode esperar muito. Não se trata de deixar para mudar de vida quando estiver mais velho, quando estiver aposentado, quando não tiver mais forças para continuar numa vida depravada ou perversa. Seria causar um enorme prejuízo ao Reino. Deus precisa de nossas forças, de nossas energias bem empregadas para fazer o Reino acontecer.

No próximo dia 25 celebramos a festa da Conversão de São Paulo. Um motivo a mais para repensarmos nossa vida, as possibilidades que o Senhor nos dá e empregá-las sempre para o bem do próximo. Para isto é preciso abertura de coração, coragem de mudar, abertura ao novo, ao inesperado de Deus que vem a nós, por vezes, através de um irmão ou acontecimento que nos surpreende. - De que preciso me converter? O que preciso mudar em minha vida para que eu seja mais fraterno, mais manso, mais amável, mais misericordioso, mais tolerante, mais justo, mais respeitoso? De que me acusa minha consciência?

O SEGUIMENTO: Jesus quer contar com colaboradores para revelar seu Reino ao mundo (re-velar é tirar o véu da maldade e do pecado que retardam a realização do Reino). Jesus é o profeta de Deus. Os sinais milagrosos que realiza servem para mostrar que Deus está com ele. Jesus não veio para fazer milagres, mas para mostrar que Deus nos ama e quer que participemos ativamente de seu projeto de amor.

Ao chamar os primeiros discípulos, conforme o evangelho de hoje relata, Jesus mostrou que não queria trabalhar sozinho. Ele quis contar com colaboradores. E estes deviam fazer alguns cortes em sua vida. Deviam se converter, tomar um novo rumo. Mudar de horizonte e de foco. Por isso deixam redes, barcas e família. Não temos nesse mundo morada permanente. “Os que têm mulher vivam como se não a tivessem” (1Cor 7,29). A vida do cristão deve ser vivida de modo kairológico, no tempo de Deus, para Deus.

Ao libertar o endemoninhado, Jesus mostra que Deus nos quer livres de todo mal que nos oprime e que é superior às nossas forças. Por isso precisamos da força de Deus manifestada em Jesus. Vivendo em comunidade, enfrentemos o mal na força e na palavra de Jesus. A conversão nos introduz na dinâmica de Jesus, de maneira que nosso modo de viver vai dando um novo jeito de ser ao mundo que nos cerca. As forças da maldade vão se dissipando pela presença da Graça e da Luz de Deus. Quando não revidamos com violência uma palavra ou atitude ofensiva. Quando não nos deixamos levar pela ganância. Quando nos solidarizamos com o sofrimento do ser humano e fazemos algo para lhe aliviar a dor, seja com atitudes individuais, seja organizando e somando forças para conseguir melhorias para a rua, o córrego, o bairro, a escola, o posto de saúde etc. É para isso que o Senhor nos chama e conta conosco.

Estes três elementos que destacamos na liturgia da Palavra de hoje querem nos ajudar a perceber que a vida é dom de Deus e deve ser vivida de tal maneira que ela seja um sinal do amor de Deus no mundo. Vivendo assim experimentaremos a alegria de viver, mesmo em meio a sofrimentos. Estes serão convertidos em fonte de vida, porque unidos à vida de Jesus.

Pe. Júlio Maria, fundador de nossa Congregação Sacramentina, procurou fazer de sua vida um dom. Um homem que fez dos 66 anos de vida um Kairós, um tempo de Deus e para Deus no serviço aos irmãos, tornando-se, assim uma inspiração para nossa vida cristã.

O tempo é breve. A figura deste mundo passa. Então façamos o bem enquanto é tempo.

Pe. Aureliano de Moura Lima, SDN

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