Tudo é Graça!
28º Domingo do Tempo Comum [09 de outubro de 2016]
[Lc 17,11-19]
Um dia desses, almoçando na casa de uma família, a netinha, enquanto guardava o prato, disse à sua vó e madrinha: “Deus te pague, Dindinha”. Achei aquele gesto lindo! A criança aprendeu que se deve ter um coração agradecido.
As atitudes se formam pelos gestos cotidianos. Em outras palavras: a atitude de gratidão se constrói a partir de pequenos gestos aprendidos desde criança, em casa, quando a mamãe ensina a criança a agradecer o alimento, a roupa lavada, o presentinho etc. Se não aprendemos a agradecer nunca seremos gratos e gratuitos. Aliás, a palavrinha muito obrigado anda sumida do vocabulário familiar! E isso é desastroso, pois leva a uma compreensão de que somos donos de tudo e que todos devem estar a nosso serviço.
Até aqui estamos falando das nossas relações humanas, de gestos de cortesia, de boa educação. Elas manifestam, porém, nosso ser mais profundo. Ou seja, como nos relacionamos com Deus. O Evangelho de hoje nos remete a essa relação. Foram dez os curados, mas somente um voltou para agradecer.
Quando pediram a cura a Jesus, este lhes pediu uma única coisa: “Vão mostrar-se ao sacerdote”, ou seja, cumpram o que está na Lei para voltarem ao convívio social (uma vez que os leprosos não podiam permanecer no convívio familiar e social por causa da doença contagiosa). Nove deles julgaram que bastava cumprir a Lei. Não perceberam que precisavam ir além, que tudo o que receberam foi graça. Pensavam ser ‘direito’ seu. Um apenas reconhece que sua cura é dom de Deus. Por isso, volta para agradecer. E este era um samaritano, isto é, considerado inimigo pelos judeus
Dizem que os piores cristãos são os que moram perto da igreja: apropriam-se da religião e esquecem que tudo é dom de Deus. Pensam que tudo o que recebem é ‘por direito’, e que não precisam agradecer.
Outro elemento, que também precisa ser considerado a partir do episódio do Evangelho de hoje, é o conteúdo das nossas orações: temos dificuldade de fazer oração de agradecimento. Nossas preces quase sempre são de pedido. Estabelecemos uma relação comercial com Deus: “vou te dar isso para que me dês aquilo”. Como se Deus fosse nosso escravo e tudo o que pedimos devesse ser concedido porque “merecemos”! Porém, o relato do leproso agradecido quer nos remeter a uma experiência de fé mais profunda e gratuita. A Eucaristia que celebramos, como o próprio nome está a indicar (Ação de graças), deve ser nossa prece maior de gratidão ao Pai por tudo. Pois tudo é graça.
A experiência de Deus nos ajuda a reconhecer que tudo é d’Ele: a família, os irmãos, a mãe natureza, os bens, os dons, nossas capacidades. Mas só faz a experiência de gratidão quem se reconhece pequeno.
Pe. Aureliano de Moura Lima, SDN