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aurelius

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Ungidos para evangelizar os pobres

aureliano, 26.01.19

3º domingo do TC - C.jpg

3º Domingo do Tempo Comum [27 de janeiro de 2019]

[Lc 1,1-4; 4,14-21]

A liturgia deste domingo convida a comunidade cristã à escuta atenta e fiel da Palavra de Deus. No evangelho, Lucas justifica a escrita que faz da narrativa dos ‘acontecimentos’ realizados por Jesus e transmitidos pelas ‘testemunhas oculares e ministros da palavra’. Em seguida, no capítulo 4º, Lucas narra que Jesus toma o texto de Isaías e encontra a passagem que lhe diz respeito. Ou seja, ungido com o Espírito do Senhor, deve anunciar a boa nova aos pobres.

Primeiramente é bom notarmos que Lucas fala de “acontecimentos”. É a narrativa dos atos e palavras de Jesus. Não u’a mera doutrina, mas um acontecimento. Como disse o Papa Bento XVI, a vida cristã é o ‘encontro com um acontecimento, com uma pessoa que dá um novo horizonte à vida’. Depois, esses “acontecimentos” tiveram “testemunhas”. Ou seja, algumas pessoas ouviram e viram e interpretaram, à luz da Ressurreição, aqueles acontecimentos. Ainda mais: aquelas ‘testemunhas oculares’ assumiram um novo horizonte de vida. Não viveram mais como dantes. Ficaram tão entusiasmadas por aquele homem que morreu na cruz e ressuscitou que começaram a viver de modo novo e a transmitir essa Boa Nova a todos que encontravam pelo caminho.

O encantamento despertado por Jesus nos seus seguidores é fruto de um programa de vida que veio realizar. Esse programa de vida está descrito no texto de hoje: “O Espírito do Senhor está sobre mim, porque ele me consagrou com a unção para anunciar a boa nova aos pobres; enviou-me para proclamar a libertação aos cativos e aos cegos a recuperação da vista; para libertar os oprimidos e proclamar um ano da graça do Senhor”.

É preciso notar que Jesus lança um olhar de misericórdia sobre os pobres. Ele não vê primeiro o pecado, mas o sofrimento das pessoas. Talvez um dos equívocos de alguns setores da Igreja seja o de firmar-se sobre a doutrina moral fria e legalista sem levar em conta a pessoa nas suas circunstâncias. Em vista disso o teólogo Johann Metz dizia: “A doutrina cristã da salvação dramatizou demasiadamente o problema do pecado, enquanto relativizou o problema do sofrimento”. No programa de Jesus a dor humana sempre ocupou o primeiro lugar.

Alguém poderia argumentar: - “Mas Jesus, diante do paralítico, perdoou-lhe o pecado primeiro, depois o curou”. É certo, mas não deixou de aliviar seu sofrimento físico e moral dizendo-lhe: “Levanta-te, pega teu leito e vai para casa”. Em todas as circunstancias vemos Jesus lançando um olhar de misericórdia sobre o sofrimento humano. Essa atitude de Jesus nos ajuda a refletir sobre nosso modo de lidar na comunidade. Talvez nosso grande pecado seja o de condenar as atitudes dos outros enquanto nos fechamos em nosso bem-estar. Se o sofrimento humano não nos comove e desacomoda é sinal de que o programa de vida de Jesus não nos diz respeito. O mesmo se diga em relação à nossa presença nos espaços sociais, políticos, administrativos: seguindo o programa de vida de Jesus, não se pode ser conivente com falcatruas, com propineiros, com mentirosos e perversos, promotores da violência, da concentração de renda em prejuízo dos pobres da terra.

A tragédia da Barragem de Brumadinho/MG deve servir de alerta a todos nós, particularmente aos governantes insensatos e insensíveis que protegem e defendem os poderosos e oprimem e destroem os pobres e humildes. Deus nos livre de gente perversa que visa ao seu próprio bolso e bem-estar mediante o sacrifício da vida dos pequenos, dos trabalhadores e dos pobres!

E note bem: ser cristão não é uma questão de escolha. Uma vez que conhecemos Jesus e seu ensinamento, não se pode mais escolher outro caminho. Ele é a única escolha que podemos fazer. Seu programa de vida deve ser nosso programa. Suas atitudes devem ser inspiração para as nossas. Ele é “o Caminho, a Verdade e a Vida”. E ainda: “Ninguém vai ao Pai a não ser por mim”. Não há outro caminho de salvação. – Ser cristão não é fruto de “decisão ética”. Também a “opção pelos pobres” não é fruto de uma ideologia, nem é descoberta da Teologia da Libertação. Ela é constitutiva do “conteúdo da fé cristológica” (Bento XVI). Ou seja, não é possível ser cristão e não viver a opção pelos pobres.

Quando lançamos um olhar para os santos da nossa Igreja, vemo-los totalmente dedicados aos mais pobres. Vejam o Servo de Deus Pe. Júlio Maria: sua primeira preocupação foi aliviar os sofrimentos dos pobres: abrigo, hospital, patronato, farmácia alternativa, educação, visita aos doentes. Gastou todas as suas forças, no Espírito de Jesus, para que os pobres fossem socorridos e aliviados. E assim temos Teresa de Calcutá, Dulce dos Pobres, Helder Câmara, Pedro Casaldáliga, Luciano Mendes, Dorothy Stang e outros milhares.

Qual está sendo a incidência da Palavra de Deus em nossa vida cristã? Nossa vida tem tido como ‘pano de fundo’ o programa de vida de Jesus de Nazaré? Que lugar ocupam os pobres em nossa vida? Como tratamos aqueles que batem à nossa porta? Nossos programas e planejamentos pastorais e comunitários levam em conta os mais pobres? Qual a porcentagem de nosso dízimo é destinada a projetos sociais e assistência aos pobres? Minha preocupação com o ser humano se concentra no seu pecado ou na sua dor? Que meios emprego para lutar contra os projetos causadores de dor e de sofrimento no povo? Que tipo de espiritualidade me anima e sustenta?

Fomos ungidos pelo Espírito Santo no batismo para anunciarmos a Boa Nova aos pobres. Que significado tem o batismo para mim, para nós?

Pe. Aureliano de Moura Lima, SDN

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